6.9.10

A aula continua via internet

A aula continua via internet
Ricardo Carvalho
17 de agosto de 2010
Revista Carta Capital na Escola.

Escolas cariocas terão ferramenta digital que permite a interação entre professores e alunos

Muitas escolas, em especial as particulares, adotaram nos últimos anos plataformas de aulas virtuais, conhecidas como Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). São softwares ou endereços da web configurados para ser canais de comunicação entre professores e alunos, além de agregarem atividades de reforço para os conteúdos trabalhados em sala de aula. Com o objetivo de trazer esse conceito às escolas públicas, a rede de ensino da cidade do Rio de Janeiro se tornará a primeira a disponibilizar aulas digitais aos seus alunos, por meio de uma ferramenta chamada Educopédia.
Apesar de ter sido criado com base em plataformas como o Moodle, Escol@ 24 horas e Educacional, o Educopédia possui um formato específico, conforme explica Rafael Parente, subsecretário de projetos estratégicos da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. “Esses portais (das escolas particulares) têm bastante conteúdo, mas não são organizados do modo como gostaríamos, que é fazer com que o aluno encontre facilmente uma aula completamente correspondente àquilo que está sendo trabalhado em sala de aula.”
São 32 aulas digitais por matéria correspondentes às orientações curriculares usadas nas aulas presenciais. “Temos uma lista de competências e habilidades relacionadas a temas específicos que precisam ser desenvolvidas”, afirma Parente. A principal característica do programa a ser implantado é a interatividade.
Além de lições e exercícios, haverá fóruns de discussões, blogs, jogos educativos, podcasts, vídeos e links para sites relacionados às temáticas. O portal também será um ambiente em que os estudantes poderão comparar respostas entre si e se corresponder com os professores. Com isso, espera-se motivar os alunos por meio das ferramentas digitais. “A motivação do aluno já é maior pelo simples fato de utilizar computadores e internet”, complementa Parente.
Metodologia
Segundo a professora Carla Verônica Machado Marques, coordenadora-geral da equipe de educação do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os conteúdos do Educopédia são autoexplicativos, baseados na metodologia da metacognição. Assim, serão propostas atividades de modo que a criança possa abstrair as regras que estão por trás do conhecimento. Carla exemplifica que a metacognição leva o aluno a induzir e deduzir as regras envolvidas em operações matemáticas como construção de seriações. “As orientações curriculares são propostas pela Secretaria Municipal de Educação e reorganizadas sob o enfoque da metacognição”, explica.
A previsão é que em agosto o Educopédia passa a funcionar em teste piloto, apenas com as disciplinas de Português e Matemática. Até 2011, as demais matérias devem ser inseridas. Os alunos da rede municipal receberão um usuário e senha, com os quais podem acessar o site, assistir às aulas e realizar as atividades. A princípio, jovens do 2º ao 9º ano podem utilizar o portal para estudo e reforço em matérias em que estejam com dificuldades. A utilização do Educopédia será obrigatória apenas a alunos que estejam com problemas de aprendizagem. “Prevemos que a taxa de reprovação chegue a 10%, e nosso primeiro objetivo tem de ser trabalhar com alunos que possivelmente possam ser reprovados”, diz Rafael Parente.
A Secretaria de Educação do Rio de Janeiro espera equipar até o fim do ano 800 salas de aula com projetores e microfones, para que o Educopédia possa ser utilizado também como ferramenta pedagógica para as aulas presenciais. Entretanto, Parente alerta que o programa não pretende substituir o trabalho dos docentes. “De forma alguma queremos substituir uma aula com professor, mas achamos que o Educopédia, a médio prazo, poderá ter um peso tão grande quanto um livro didático, porque tem muitos recursos e se aproxima mais da realidade do aluno”, relata.
Escolas conectadas
Não existe ainda estudos concluídos que apontem o acesso à internet dos estudantes da rede municipal do Rio de Janeiro. Uma pesquisa está sendo realizada pelo Instituto Oi Futuro, Ibope e Instituto Paulo Montenegro para entender o relacionamento dos discentes e docentes municipais com as novas tecnologias da informação. Espera-se que de 5 mil a 10 mil alunos respondam às perguntas, além de 38 mil professores da rede. Porém, Rafael Parente espera que os laboratórios de informática escolares e lan houses sejam utilizados por aqueles que não têm conexão à internet em casa. “Temos praticamente todas as escolas municipais conectadas à banda larga. De 1.064 instituições, 1.014 têm internet”, conclui.
Desenvolvimento
A criação do Educopédia foi fruto de uma parceria da Secretaria Municipal de Educação, Instituto Oi Futuro e a UFRJ. Durante duas semanas, 90 professores da rede municipal e pós-graduandos da UFRJ foram capacitados em novas tecnologias, recursos educacionais e metacognição. Cada profissional recebe uma bolsa mensal de 900 reais e, em contrapartida, tem de produzir três aulas digitais por mês até março de 2011. Docente do Centro Integral de Ensino Público Nelson Mandela, na zona oeste do Rio de Janeiro, Lívia Fernandes faz parte da equipe do Educopédia. Ela conta que ficou sabendo da iniciativa pela rede social Twitter, participou da seleção e já produziu duas aulas de alfabetização para crianças de 7 a 8 anos. Em uma das aulas, para chamar a atenção dos alunos, ela inicia a explicação usando um vídeo. “Isso traz para o aluno a vivência que ele tem em casa”, afirma. Segundo Lívia, o Educopédia será um valioso instrumento de aprendizagem, uma vez que dará a todos os professores a oportunidade de trabalhar com as novas tecnologias da informação e, assim, criar um ambiente de aprendizagem lúdico e atrativo.

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