Emília Ferreiro: Trechos de entrevista à Revista Nova Escola.
NE: As novas tecnologias trouxeram mudanças importantes?
Emilia: Sim, porque entram não somente na vida profissional mas também no cotidiano pessoal. Permitem ler e produzir textos e fazê-los circular de modo inédito. Hoje, ser alfabetizado é transitar com eficiência e sem temor numa intrincada trama de práticas sociais ligadas à escrita. Alfabetizar é cada vez mais um trabalho difícil. Em muitos casos, mudou o próprio modo de ler e escrever. O texto de e-mail, por exemplo, não tem regras definidas.
NE: No Brasil, os adolescentes criaram todo um código para se comunicar pela internet.
Emilia: Isso acontece em toda parte. Pode ser um fenômeno passageiro, mas o certo é que os jovens estão fazendo com a escrita um jogo divertido. E para transgredir a escrita é preciso conhecê-la.
NE: O uso de computador nas escolas tem sido adequado?
Emilia: É comum os professores não saberem muito bem o que fazer com ele. Por isso foi inventada a sala de informática, para usar num determinado horário. É uma maneira de não incluir o computador na atividade diária.
NE: Muitas escolas têm computadores não conectados à internet. Costuma-se dizer que não servem para nada.
Emilia: Ao contrário, são muito úteis. A escola sempre trabalhou mal a revisão de texto e os alunos odiavam fazê-la porque num texto a mão é preciso voltar a escrever tudo. Com um processador de texto, a revisão se torna um jogo: experimenta-se suprimir ou deslocar trechos, com a possibilidade de desfazer tudo. Após as intervenções, temos na tela um texto limpo, pronto para ser impresso. A revisão é fundamental para que as crianças assumam a responsabilidade pela correção e clareza do que escrevem.
Um comentário:
É belo ver a Emília Ferreiro falando do novo olhar sobre a alfabetização, das novas práticas sociais ligas à escrita.
Ela que estruturou conceitos importantes como alfabetização e letramento, põe-se aberta a repensar seus conceitos e buscar novas realidades.
Nossos professores precisam aprender com ela a superar suas certezas na busca pelo novo e parar o ciclo reprodutivista da educação bancária.
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