15.11.06

Uma nova doença na pós-modernidade

Jovem tarda a reconhecer uso excessivo



Rosa Farah, coordenadora da clínica da PUC-SP,
que auxilia no tratamento de viciados em internet




Por ser um problema relativamente novo, o tratamento para o vício em internet ainda é um grande desafio para os psicólogos. Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, os efeitos maléficos do uso excessivo de computadores demoram a aparecer.
"A pessoa só percebe que está sendo prejudicada por um vício quando começa a sentir os prejuízos", explica o professor da Unifesp Aderbal Vieira Júnior.
Diferentemente do que ocorre com os viciados em jogo ou em drogas, que sentem as perdas financeiras e sociais de forma rápida, quem faz uso excessivo de internet pode demorar anos para notar que sua vida está sendo pautada por uma doença grave.
"É difícil perceber. Se um adolescente chega várias vezes atrasado na escola porque passou a noite jogando on-line, os pais acham que é uma coisa normal da idade", diz Vieira Júnior.
A falta de repressão dos pais ou da própria sociedade, no caso de adultos, facilita a piora no quadro de dependência.
A fonte do problema, porém, não é a rede e suas inesgotáveis atrações. Em boa parte dos casos, a internet atua como uma espécie de substituta para sensações que faltam na vida real da pessoa. O acesso abusivo das salas de bate-papo e de mensageiros, por exemplo, supriria a ausência de relações interpessoais.
Assim, o tratamento mais adequado é convencer o usuário a dosar melhor suas atividades. Atualmente, parar totalmente de usar o computador acarretaria prejuízos profissionais e isolamento.
Não existe uma idade ou característica predominante nos pacientes que fazem uso excessivo da internet. Muitos são adolescentes, pois a iniciativa do tratamento parte dos pais. Para os especialistas, porém, os sintomas do vício começam aparecer na fase adulta, quando o problema passa a afetar os compromissos profissionais e o corpo não suporta mais tantos abusos.

Publicado no Caderno de Informática da Folha de São Paulo, em 15.11.2006.

Um comentário:

Adailton Altoé disse...

De fato, este é um problema sério, particularmente para as crianças e jovens que têm acesso ilimitado ao computador e com frequência no próprio quarto, longe do alcance das vistas dos pais. Aliás, a falta de auto-controle já é indício de deficiência no processo de formação da personalidade, sobretudo de falta de acompanhamento dos pais no processo de formação dos filhos. Mais do que controlar, é fundamental uma orientação acompanhada de combinados que estabeleçam parâmetros para os jovens. Para isso, é importante diversificar atividades, particularmente entre as virtuais e as de interação social direta.
Adailton Altoé