6.10.10

O Velho Mestre, a Educação e a Internet

O Velho Mestre, a Educação e a Internet

Por Luiz Edmundo Machado
O Mestre acordou, abriu os olhos e estranhou o lugar onde estava. Passou a mão pela cabeça e sentiu o cabelo comprido. As mãos enrugadas. Coçou o rosto e sentiu uma longa barba...
Procurou o espelho e susto foi maior ainda... ao invés de um jovem de trinta e poucos anos, já Doutor em Educação, viu um velho enrugado. Assustou-se e gritou.
Uma enfermeira apareceu e também gritou a todos que o Mestre tinha acordado...
Disseram que ele dormiu 60 anos, Não era mais 1947 e sim 2007...
O professor tinha milhões de perguntas a fazer. A mente treinada em metodologia da pesquisa tentou classificá-las por ordem de importância, mas eram muitas... Somente uma pergunta pareceu adequada: " - O que aconteceu com o mundo e com o Brasil nesses anos todos?
"Várias vozes começaram a repetir frases com palavras que ele não conhecia. Então, como um bom professor, perguntou: " - Há alguma biblioteca onde eu possa pesquisar nos periódicos o que aconteceu?"
Todos se entreolharam. Os que entenderam o que ele quis dizer sorriram...
Alguém sugere que ele precisa se distrair um pouco e põe na mão dele o controle remoto da televisão. O professor olha espantado para a caixinha cheia de botões e não sabe o que fazer. Alguém toma a caixinha e liga a TV...
Ele deu um salto para trás, ao ver a caixa acender e alguém aparecer de dentro dela, narrando cenas que aconteceram no outro lado do mundo...
A mente treinada a aprender do professor pensou... "Calma, é apenas um cinema portátil". E perguntou: " - Quando ocorreu isso?"
Ao vivo, naquele mesmo momento, responderam. Ele sentiu um calafrio percorrer a espinha; se não fosse uma pessoa esclarecida teria deixado escapar a palavra que veio à mente: mágica!
Perguntou novamente sobre a biblioteca e disseram para ele procurar na internet...
" - Internet?", perguntou...
" - Sim", responderam, a rede mundial de computadores. Ele arregalou os olhos...
Explicaram e ele ficou meio ressabiado. Pediu para ler um jornal, mostraram-lhe blogs em um aparelinho aberto com tela colorida. O professor se assustou ao ouvir que cada um podia escrever o seu jornal. E que poderia comentar as notícias que lia. E discordar do jornalista e ali mesmo colocar a sua opinião...
Pediu então uma enciclopédia atualizada. Mostraram a Wikipédia (" - é só clicar nas palavras sublinhadas"...). " - E quem escreve tudo isso?", perguntou. " - Qualquer um", responderam, atualmente são mais de 290.000 colaboradores...
" - Mas quem controla tudo isso? Quem comanda o trabalho? Quem diz o que escrever?". A resposta foi: ninguém e todo mundo...
O professor pulou da cama. Ou o mundo estava louco ou ele estava. Saiu correndo, deixou o hospital e chegou à rua... Quase foi atropelado. Dezenas de carros, mais do que ele já havia visto em toda a vida, todos ao mesmo tempo na rua, acelerando, freando, buzinando...
Ele correu desesperado, ainda com a roupa do hospital, um roupão aberto nas costas...
Então reconheceu um prédio algo familiar. Sujo, pichado, mas reconheceu uma escola, uma escola pública...
Dirigiu-se para lá, entrou esgueirando-se e foi para o último lugar seguro do qual se lembrava, a sala de aula ...
Sentiu um certo conforto: a mesma lousa, o mesmo tipo de cadeiras, que pelo desgaste deviam ser exatamente as mesmas de seu tempo... Encolheu-se em um canto e ficou ali, tentando colocar as idéias em ordem.
De repente entram os alunos, numa algazarra tremenda. O Velho Mestre enrubesceu...
Entra então o professor daquela turma, que tem um certo trabalho para controlar a classe e começar a aula. O Velho Mestre parece o único a prestar atenção...
Ele percebe que, apesar da falta de atenção dos alunos, apesar da falta de disciplina, a aula era exatamente igual àquela que ele ministrava...
Respira fundo aliviado e pensa: "Graças a Deus alguma coisa não mudou. Pelo menos a Educação no Brasil continua a mesma de 60 anos atrás".

2 comentários:

anatriz disse...

É... imagino que os alunos sintam o mesmo quando entram na escola: voltaram ao século passado!

Simão Pedro disse...

Por isso penso que a nossa educação não é conservadora, ela é atrasada mesmo.