20.11.06

Na terra do nunca

No país que teima em não crescer, impressiona a velocidade com que se desenvolvem meios para explorar cidadãos de boa-fé e a miséria alheia. Nos chamados grotões do Nordeste, uma novidade está mudando radical e perigosamente o comportamento dos filhos de trabalhadores rurais e de desempregados: a proliferação de lan houses sem qualquer tipo de fiscalização.
Nessas casas de jogos eletrônicos e acesso à internet, dá-se uma espécie de inclusão digital às avessas e sem orientação. Em troca de moedas, deixam que crianças e adolescentes viajem através das armadilhas do mundo virtual. Um clique e a miséria ao redor se transforma em brilho e sedução. O resultado dá para imaginar: muita pornografia e casos de meninos e meninas viciados em internet -presas fáceis para pedófilos on line.
O problema foi objeto de uma série de reportagens do "Diário de Pernambuco" antes das eleições. Uma realidade estarrecedora que deveria ser amplamente debatida em todo o país.
No interior de Pernambuco, um menino de 12 anos trabalha vendendo coentro de porta em porta para ganhar R$ 2 - é, dois reais- por mês, gastos integralmente numa hora e meia de lan house. A mãe pensa que ele desperdiça a "fortuna" comendo porcaria na rua e reclama da falta de mais um dinheirinho para pôr comida em casa. Ele trabalha, há quem roube ou vá além, relata o jornal.Ribeirão (a 85 km de Recife) tem cerca de 40 mil habitantes, 12 mil dos quais na zona rural. Pois a cidadezinha já conta com 25 lan houses e o conselho tutelar local começou a registrar casos de adolescentes de ambos os sexos que se prostituem por até R$ 1 para se conectar.
No país que se recusa a crescer, o lado perverso da tecnologia chegou bem antes de uma educação decente e inclusiva. É a miséria.com.br.

Artigo de Sérgio Costa, publicado hoje na Folha de São Paulo.

Um comentário:

Geraldo Pedagogo disse...

Realmente a falta de registros e monitoramento de lan houses tem tornando um problema para muitos.

Além do fato de roubo, prostituição para se ter dinheiro para utilizar uma la house, relatado pelo artigo, temos o problema dos crimes virtuais; pessoas que acessam contas, invadem sistemas, deixam as nossas informações vulneráveis, sem deixarem indícios, pois não há legislação que obrigue a identificação de usuários de lan house, como ocorre com os celulares pré-pagos.