29.10.06

O novo professor e o novo aluno: aprender a prender

Nas duas últimas décadas do século XX, o cenário educacional brasileiro parece redirecionar o olhar dos educadores e pesquisadores para dois focos: primeiro nas possibilidades da pesquisa qualitativa em re-significar a educação com a vida e a voz do professor, alicerçada na trajetória da prática docente e segundo, nas necessidades de aliar os conhecimentos e procedimentos pedagógicos à subjetividade deste profissional, como subsídios da formação contínua do professor.

A Educação a Distância, segundo o filósofo francês Pierre Levy, era uma espécie de "estepe" do ensino, utilizada quando o sistema educacional convencional falhava. Supria lacunas, por isso considerada pela sociedade como de “segunda categoria”, “coisa de pobre” dirigida para os excluídos do sistema educacional.

A Internet, os congressos e encontros de Educação a Distância despertam as pessoas para conhecer as novas tecnologias. Jornais e revistas dão destaque aos projetos de escolas e universidades virtuais. Um fenômeno mundial. As melhores e mais caras universidades começam a montar seus “campi” virtuais e a oferecer Educação a Distância via Internet.

Até parece uma incoerência, um paradoxo entre o presencial e o virtual. A vida e a voz do professor, a subjetividade, a prática docente, os procedimentos pedagógicos devem re-significar a educação. Novas tecnologias, a Internet, jornais e revistas, universidades – todos – parecem motivados para a objetividade da a educação à distância. O professor mostra-se confuso, atônito entre o sujeito e a tecnologia, entre ser professor face a face ou tutor à distância.

A educação on-line está desafiando as instituições a repensarem seus modelos pedagógicos, à medida que ingressamos na sociedade da informação. Hoje, a informação "envelhece" mais rapidamente. O tempo de vida dos saberes é cada vez menor. Neste sentido, o professor também fica velho e, conseqüentemente, o aluno não está a rejuvenescer. Como acompanhar a sociedade em que os sujeitos, professor e aluno, navegam pelo mar da educação presencial e virtual?

A “sociedade da informação” impõe reflexos positivos e negativos sobre a motivação do professor e do estudante. O professor parece esconder a sua condição de aprendiz, enquanto o aluno revela certa crise de identidade no processo de aprendizagem que as escolas e universidades oferecem. Professor ou tutor? Aluno presencial ou aluno on line?

Os papéis de professor e aluno se transmutam. O aluno não é mais receptor, assimilador ou reprodutor de conteúdos. O professor deixa de ser um provedor de informações e ensinamentos. Professor e aluno passam a ser companheiros no processo de aprendizagem, procurando todos o crescimento de todos. Interagem em equipes reais ou virtuais. A sociedade hoje requer sujeitos que contribuam para o aprendizado do grupo. A inteligência coletiva combina competências, mais do que a genialidade individualista. “Dentro deste quadro, aprender a aprender, colaborativamente, é mais importante do que aprender a aprender sozinho... Co-laborar é mais do que simplesmente laborar.” (Wilson Azevedo)

Os desafios exigem esforços. É preciso aprende a ser um aluno online. O professor precisa “aprender a aprender” ser aluno on line, para transmutar-se em professor on line. Ser aluno on line é mais do que aprender a surfar na Internet ou usar o correio eletrônico. Professores e alunos, reais ou virtuais, devem atender às demandas dos novos ambientes de aprendizagem, perceber que a inteligência coletiva e a aprendizagem colaborativa desempenham o novo papel na sociedade da informação, nas práticas educacionais.

Este novo aluno e este novo professor já existem? Precisamos “aprender a aprender” a ser novos, nessa nova área de prática educativa tecnológica. A que medida, estamos dispostos – professores e alunos - a assumir uma identidade capaz de desnudar o individual e privilegiar o social? As “identidades flutuam no ar, são complexas, precisam de alerta constante” (BAUMAN, 2005:19). O novo já nasce velho.


Referências

AZEVEDO, Wilson. Trechos de panorama atual da educação a distância no Brasil. (Extraído de
http://www.tvebrasil.com.br/). Disponível em www. escolanet.com.Br/sala_leitura/novprof_novaluno.html. Acesso em 29.10.2006, às 16:36.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005

FRANCO, Maria Amélia Santoro. História de vida: uma abordagem emancipatória aliando pesquisa e formação de professor reflexivo. Disponível em www.educacaoonline.pro.br/art_historia_de_vida_.asp?f_id_artigo=500. Acesso em 04.08.2006, às 14:38.

Panorama atual da educação à distância no Brasil. Disponível em
http://www.newtonpaivavirtual.br.texto19.pdf/ . Acesso em 29.10.2006, às 17:36.

2 comentários:

Simão Pedro disse...

Aprender a prender?
Isso é coisa para Academia de Polícia ou instrução de quartel da PM. :-)

Prof. Leonardo Mataruna disse...

A autonomia da aprendizagem faz com que ocorra uma inversão identitária dos passos na caminhada do conhecimento entre aluno e professor. O docente também é discente quando aprende com o aluno que passa a ser professor. Porém as tendências educativas fazem parte de um processo, assim como a EAD, que em seu nome apresenta os constructos de um propósito, educar com a oferta do conhecimento e a gestão do próprio aluno. A sociedade caminha para uma tendência cada vez menos presencial, pois não haverá como gastar muito mais tempo em deslocamentos aos espaços educativos quando estes processos podem ocorrer em qualquer lugar sem limitações e barreiras.